RIO GRANDE DO SUL
Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul: Um Século de Lutas e Transformações na Questão Agrária e dos Camponeses
   

Por Áxsel Batistella de Oliveira. Professor no Estado do RS e Doutorando em História pela UPF.
07/10/2023 17h34

Por: Áxsel Batistella de Oliveira. Doutorando em História pela Universidade de Passo Fundo e Professor no Estado do Rio Grande do Sul. Realiza pesquisas nas áreas de História do RS, Escravidão, Comunidades Quilombolas e sobre História da propriedade.

 O Rio Grande do Sul celebra o centenário de um dos capítulos mais emblemáticos de sua história: a Revolução de 1923. Um século após os tumultos que sacudiram o estado, a questão agrária e dos camponeses continua a ser um tema central de discussão e reflexão, demonstrando a duradoura importância desse movimento para a história agrária e para os direitos dos camponeses do Rio Grande do Sul. 

A Revolução de 1923 foi um levante armado que eclodiu no Rio Grande do Sul, desafiando a ordem estabelecida e demandando mudanças significativas na estrutura agrária e política do estado. Naquela época, a região sul do Brasil era caracterizada por uma concentração de terras nas mãos de poucos latifundiários, enquanto a maioria da população rural, composta em grande parte por camponeses, vivia em condições precárias. 

A Questão Agrária e dos Camponeses no Centro das Demandas 

A Revolução de 1923 no Rio Grande do Sul trouxe à tona uma profunda divisão de interesses entre as elites, os caboclos e os ervateiros, e essa divergência de objetivos se manifestou de maneira contundente na questão agrária. Para os revoltosos que lideraram o movimento, a questão agrária e dos camponeses representava o epicentro de suas reivindicações. Eles não apenas clamavam por uma redistribuição mais equitativa das terras, mas também exigiam o fim do monopólio de propriedade fundiária e, igualmente importante, a melhoria das condições de vida dos agricultores e camponeses, que compunham a maioria da população rural. 

Essa demanda por justiça fundiária e melhorias nas condições de vida dos trabalhadores rurais era um reflexo direto das dificuldades enfrentadas pelos caboclos e ervateiros. Muitos deles viviam em situações de extrema precariedade, trabalhando arduamente nas plantações de erva-mate em troca de salários insuficientes para sustentar suas famílias. As condições de trabalho eram frequentemente desumanas, o que gerava um sentimento de exploração e injustiça entre esses grupos. 

Os conflitos armados que se desenrolaram durante a Revolução de 1923 foram, em grande medida, uma manifestação da profunda luta contra a desigualdade fundiária que permeava a sociedade gaúcha na época. As barricadas erguidas e os combates que se seguiram não eram apenas uma busca por mudanças políticas, mas também uma demanda por uma reforma agrária substancial, que não só garantisse a redistribuição das terras, mas também abordasse as desigualdades socioeconômicas que afligiam os camponeses e os trabalhadores rurais. 

Por outro lado, as elites da época estavam motivadas a preservar seu domínio sobre a terra e os recursos. A concentração de terras em suas mãos garantia não apenas o controle econômico, mas também uma influência política significativa. Para elas, a manutenção do status quo era essencial para proteger seus interesses econômicos e políticos. 

O Centenário da Revolução e dos Camponeses 

Cem anos depois, o legado da Revolução de 1923 ainda está presente no Rio Grande do Sul, não apenas na história agrária, mas também nos direitos e nas condições de vida dos camponeses. As lutas e os ideais dos revoltosos inspiraram gerações subsequentes a continuarem a luta por uma distribuição mais justa das terras e pela promoção de melhores condições para os trabalhadores rurais, especialmente os camponeses, que desempenham um papel vital na produção de alimentos no estado. 

Legados e Desafios Atuais para a Questão Agrária e dos Camponeses 

O centenário da Revolução de 1923 é uma oportunidade para refletir sobre os desafios atuais enfrentados pela questão agrária e pelos camponeses do estado. A concentração de terras ainda é uma questão relevante, assim como a busca por melhores condições de trabalho e vida para os camponeses, que frequentemente enfrentam condições desafiadoras em sua jornada diária. 

À medida que o Rio Grande do Sul comemora um século de sua revolução, os debates sobre reforma agrária e os direitos dos camponeses continuam a ecoar. Os legados desse movimento histórico nos lembram da importância de buscar soluções equitativas e sustentáveis para as questões agrárias e dos camponeses, garantindo um futuro mais justo e próspero para as gerações vindouras e reconhecendo a valiosa contribuição dos camponeses para a sociedade e a economia do estado. O centenário nos convida a reafirmar o compromisso com a justiça social no campo e a promover políticas que beneficiem tanto os trabalhadores rurais quanto a agricultura do Rio Grande do Sul. 


   

  

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