COLUNISTA |
Nem só de erva se fez a Palmeira |
Mas, além da erva-mate, a história palmeirense também foi marcada por outros ciclos econômicos. |
Palmeira das Missões é sempre reconhecida como a terra da erva-mate. Sua origem e sua história, fortemente ligadas à exploração e ervais, desde a época jesuítica, e ao seu beneficiamento, desde o tempo dos primeiros carijos do Rio Grande do Sul fortalecem essa associação, mesmo na contemporaneidade, momento em que a Palmeira divide a produção e a fama com outras regiões do Rio Grande e mesmo do Brasil.
Mas, além da erva-mate, a história palmeirense também foi marcada por outros ciclos econômicos, que ora mais, ora menos, também deixaram um legado à Palmeira de hoje, seja em seus costumes, em sua economia, nas tradições, ou mesmo em sua identidade cultural. Assim foi o ciclo dos tropeiros, iniciado por volta de 1816, com o caminho aberto entre o sul e o sudeste do Brasil, pelo Alferes Athanagildo Pinto Martins; o ciclo da pecuária extensiva e, o ciclo da madeira sobre o qual versa o documento abaixo.
Escrita em 1920, a carta escrita pelo Inspetor florestal Acylio Antunes da Cunha para Serafim de Moura Reis Junior, trás o relatório de atividades de fiscalização do guarda florestal Francisco Lemes Cavalheiro. Neste relatório, a exploração de madeira surge como protagonista econômica, sobretudo a exploração de cedro; e, à madeira se juntam questões relacionadas ao corte de erva-mate e seu fabrico, bem como a conservação da estrada do Pary (atual tenente Portela), pela qual eram exportados diversos produtos coloniais, dentre os quais, a erva-mate.
EU, Acylio Antunes da Cunha, Inspetor Florestal da 3ª Região do Município de Palmeira neste Estado, certifico em virtude do pedido por escrito feito a mim, por Serafim de Moura Reis Junior que em quatro de março de mil novecentos e vinte, me foi apresentado pelo Guarda Florestal Cidadão Francisco Lemes Cavalheiro, o relatório do teor seguinte: Ilmo. Sr. Acylio Antunes da Cunha, D. Inspetor Florestal da Comissão de Terra de este município. O fim da presente é apresentar-vos o relatório dos meus serviços prestado nesta zona como abaixo declaro. Das madeiras apreendidas do Sr. Manoel de Oliveira Bueno, só pode encontrar para marcas 93 vigas de cedro, estas mesmo sendo em dois lugares; No Rio Turvo encontrei 65 vigas, no Rio Uruguay 28 ditas. E também só encontrei uma canoa; Consta também ter ficado sem puxar do mato de 10 a 20 vigas das mesmas madeiras do Sr. Bueno. Estas ditas vigas procurei muito e não pode encontrar por motivo do mato ser muito carrasquento e por não existirem mais os corredores, já estão apagados devido o tempo que faz que foi tirado estas madeiras cumprindo as vossas ordens de 26 de janeiro p.p.
Firmei o embarque das madeiras do Sr. Ramão L. de Souza Filho e marquei 148 vigas de cedro e 2 arvores somente derrubadas, para extrair vigas. Em viagens passando pelo Pary encontrei o Sr. Oracio Simplicio de Castro vulgo Orácio Cachambu extraindo herma mate fora do regulamento da lei, o qual chamei a ordem, respondeu-me dizendo ter ordem verbal de V. S. para fabricar erva mate; Então levo ao vosso conhecimento este fato e aguardo vossas ordens. Recebi parte por escrito do Sr. Dinarte Pedroso dizendo que o Sr. Oracio Cachambu tinha podado 8 pés de erva em seu (.....?) o qual de dois peritos e fui ao local de esta erva e verifiquei ser exato testemunhei. Aguardo vossas ordens sobre esse fim. Encontrando no confinâncias dos cultivados dos Srs. Oracio e Laurindo Cachambu, em mato alto onde eles chamam-se à posse, erva podada em Dezembro e Janeiro p.p. reconhecida por mim e os peritos, também aguardo vossas ordens.
[...]
Sabendo que é de meu dever como funcionário florestal de levar ao vosso conhecimento quando há alguma necessidade em estradas ou caminhos e outros serviços pertencentes ao mesmo regulamento, então por este motivo levo ao vosso conhecimento que a estrada do Pary acha-se em péssimas condições, fechada pelos vegetais e acho mito justo que V. S. tome algumas providencias sobre esse fim porque esta estrada é a fonte de exportações de grande numero de produtos coloniais, e também exporta grande quantidade de erva-mate que dá boa renda ao município. A população desta região empenha-se e reclama todos os dias a fim de ser atendida esta reclamação. E também por minha vez, peço a V. S. energias medidas sobre este fim. E com bastante prazer, que pela primeira vez cumpro o dever de apresentar o meu relatório, e toda a vez que se aproxime a época, sinto-me bastante embaraçado por faltar-me o preparo necessário para vos dirigir um trabalho digno de ser publicado. Relatório apresentado por mim, Guarda Florestal Francisco Lemes Cavalheiro. E como nada mais conta em referencia ao (...?) (...?) passo e firmo a presente certidão.
Palmeira, vinte e seis de maio de mil novecentos e vinte.
O inspetor Florestal da 3ª Região.
Acylio Antunes da Cunha.
Fonte: IHGRS. FUNDO BORGES DE MEDEIROS. SÉRIE CORRESPONDÊNCIA
SUBSÉRIE PASSIVA. Cartas: 1- de Acylio Antunes da Cunha, Palmeira das Missões.