COLUNISTA
Centenário da Revolução de 1923: DEPOIS DE 23... 1924.
   

Por Instituto Palmeirense de História.
30/06/2023 15h44

A Revolução que atravessou o ano de 1923, deixando marcas profundas na história e na imaginação dos rio-grandenses, deixou marcas também profundas, devido ao grau de sua violência que atingiam “gregos e troianos”.

O ano de 1923 em Palmeira das Missões, assim como em todo o Rio Grande do Sul foi embalado pelo ritmo das campanhas eleitorais para o governo estadual, cujo pleito, segundos as autoridades eleitorais da época, deu a vitória de Borges de Medeiros sobre Assis Brasil. Em 1923, estourou a revolta maragata, a Revolução e adveio o Pacto de Paz de Pedras Altas em dezembro de 1923.

Mas, paz, em Palmeira das Missões, seria algo inaudito.

O ano de 1924, em Palmeira era tão belicoso quanto os anteriores.  Essa é a perspectiva daquele contexto na Vila da Palmeira, trazida pelo testemunho de Ramão Luciano de Souza, relevante líder republicano da região de Palmeira das Missões, que em sua missiva ao líder maior do Partido Republicano Rio-grandense na década de 1920, Borges de Medeiros, pôs em evidência uma versão contundente das movimentações político-partidárias locais, as quais eram mantidas pelas tensões entre federalistas, maragatos e, aparentemente, principalmente pelos desentendimentos entre os próprios republicanos... afinal, as eleições municipais estavam chegando.

Palmeira, 22 de Março de 1924.

Exmo. Sr. Dr. Antônio Borges de Medeiros

[...]

Em Campo Novo, onde está destacado um contingente do 3º Corpo, sob o comando o Capitão João Câncio Polyceno, diversas violências estão sendo postas em prática é o referido corpo e sua gente com o intuito manifesto de desprestigiar-me.

Há poucos dias veio a minha presença um companheiro nosso que achava-se ameaçado, pedir-me garantias que imediatamente lhe assegurei. Dei-lhe uma recomendação escrita na qual pedia as autoridades que o respeitassem. Pois foi como se houvesse pedido exatamente o contrário. O aludido Corpo resgou a recomendação escrita que a havia dado aquele Sr., espancou-o brutalmente e pô-lo a trabalhar as ruas alardeando que isso fazia por determinação expressa de seu maior chefe, Tte. Cel.  Walsomiro Pereira Dutra. Esse Corpo também vem procedendo ao desarmamento irregular e violentamente, tirando revolveres, principalmente, não mais se conseguindo a devolução.

E isto é feito contra gregos e troianos.

Nesta vila há poucos dias foi praticado um atentado contra um eleitorando federalista, em frete a Intendência no momento e que aquele retirava-se. Esse fato, segundo dizem foi em arte presenciado pelo meritíssimo Juiz de Comarca, que atendeu aos gritos da vitima no momento de ser espaldeirado por alguns praças do 3º Corpo. Tendo as autoridades recusando-se a fazer o auto de Corpo de Delito na vitima o chefe federalista Leonel Rocha, sitiou-se desta Vila com sua gente, determinando esse fato um grande ______ na população, sendo esse gesto daquele Sr., muito explorado pelos jornais da oposição.

Há muitos outros fatos, até contra companheiros nossos, mas estes bastam para bem caracterizar a situação de intolerância eu aqui está implementado o Tte. Cel. Wasulmiro Pereira Dutra, comandante do 3º Corpo. Os nossos próprios companheiros, que não concordam como todas as pessoas sensatas, também desaprovam esses atentados brutos e contraproducentes vêm-se ameaçados pelo_____ desse homem de temperamento ________, andando todos calados para evitarem de serem desfeiteados. [...].

Fonte da documentação: Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Fundo Borges De Medeiros. Série Correspondência. Subsérie Passiva. Palmeira das Missões. (SOUZA, Ramão Luciano de. 03433; Carta. Palmeira das Missões, RS, 22/3/1924. 6 folhas. Descritores: Municípios, Funcionalismo.).


   

  

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