Revolução Gaúcha de 1923
Com certeza, dentre muitas guerras, conflitos e revoluções que marcam a história do Rio Grande do Sul, um capítulo à parte é a Revolução de 1923.

Por Cristiane de Quadros De Bortolli, professora Mestra de História.
14/07/2023 13h24

Cristiane de Quadros De Bortolli, professora Mestra de História.

Somos um Estado de muitas guerras civis. Há cem anos, em 25 de janeiro de 1923, estourava a nossa última grande guerra civil, opondo, mais uma vez, Chimangos e Maragatos. Borgistas, seguidores do presidente da província, Borges de Medeiros e Assisistas, aliados de Assis Brasil, líder da oposição derrotada, outra vez, na eleição.

Palmeira das Missões, município de 149 anos, contém muitas histórias e foi palco de grandes conflitos, portanto, não poderia estar excluída desse fato, pois teve participação efetiva no mesmo. As divergências iniciaram-se anteriormente com as disputas políticas, na Revolução Federalista (1893-1895), as quais deixaram profundas marcas e revanchismo entre Chimangos e Maragatos.

Para compreendermos um pouco mais esse feito é bom relembrarmos os motivos que levaram a Revolução: o governo prolongado de Borges de Medeiros, de caráter personalista e aspecto ditatorial feria e afrontava o espírito liberal de grande parte do povo gaúcho. Portanto, nas eleições que ocorreram em novembro de 1922, eles se engalfinhavam para saber quem mandaria no Estado.

Assim, não eram apenas dois princípios, dois ideais que não se associavam nem se confundiam. Dessa forma, as eleições realizaram-se em clima agitado. O pleito realizado em novembro, foi precedido de boatos sobre a iminência de um levante contra o governo estadual, e seguido de acusações de fraudes, anulação de atas, etc., que partiu de ambos os lados. 

Questionava-se o número de votos, mas de acordo com a Constituição Estadual de 1891, a mesma dizia: “o presidente exercerá a presidência por cinco anos, não podendo ser reeleito para o período seguinte, salvo   se merecer o sufrágio de três quartas partes do eleitorado.”  Mas qual eleitorado? Os opositores sustentavam que era todo o eleitorado, mesmo os que não haviam votado. A situação entendia que eram três quartos dos que tinham de fato votado. Como contar? Inclusive os que não haviam comparecido as urnas?

Assim, antes da posse iniciou-se mais um movimento revolucionário no Estado voltado para a deposição do novo governo. Já uma parte da oposição se levantara em armas e solicitaram interferência do governo Federal, o qual respeitou a autonomia do estado. Portanto, como não se entenderam na interpretação do texto Constitucional, foram às armas com certa satisfação. Com certeza, dentre muitas guerras, conflitos e revoluções que marcam a história do Rio Grande do Sul, um capítulo à parte é a Revolução de 1923.

Assim, chegamos no ano do Centenário da terceira e última guerra civil rio-grandense, a “Revolução de 1923”, que deixou um saldo de mais de 1000 mortos. Perguntamo-nos: quem eram os líderes, a força política da época? Quem são as pessoas invisibilizadas? Onde estavam os Negros, as Mulheres e os Indígenas? Em que momento aparecem ou, quase não aparecem na história? Porque entre tantos municípios, os combates da revolução de 1923 aconteceram nos arredores de Passo Fundo, Palmeira das Missões, Pelotas e São Francisco de Assis, sendo esta última cidade o ponto derradeiro para os maragatos, que foram derrotados pelas tropas borgistas. A paz teve que ser tratada para evitar mais confrontos e mortes. 

Ocorrendo o entendimento entre as partes em conflito, obtendo-se o armistício e a anistia dos revoltosos com a Paz de Pedras Altas, na estância de Assis Brasil, em 14 de dezembro. O   Pacto de Pedras Altas não chegou a promover a total pacificação no estado, sentindo-se ainda perseguidos por Borges de Medeiros, muitos dos elementos oposicionistas passaram a ingressar no Exército ou a estabelecer ligações com a jovem oficialidade revolucionária. O pacto realmente significava a derrocada do sistema contra o qual nada pudera, 30 anos antes, a longa e cruenta Revolução Federalista de 1893, que buscara anular a Constituição Estadual elaborada por Júlio de Castilhos.

Todos os fatos nos levam a considerar Palmeira das Missões uma cidade rica de feitos históricos e muito pouco se tem registrado, sendo a obra mais completa da história do nosso município o livro do professor Mozart Pereira Soares.  A professora e historiadora Lurdes G. Ardenghi, em sua pesquisa, revela fatos relativos ao envolvimento de revolucionários e dados mais específicos da Revolução de 1923 ocorridos em nosso município. 

Nos dias atuais há outros pesquisadores escrevendo e documentando os fatos históricos do nosso município em diversos temas. Temos muito ainda a pesquisar e revelar, mas encontramos dificuldades pois não temos espaços públicos com documentação para pesquisa. Necessitamos conscientizar a população da importância da guarda de objetos, fotos e documentos que revelam a história do município, bem como realizar seminários, bate papos e registros orais sobre os temas.

Será que a população palmeirense conhece o local e a história do monumento aos Maragatos? Quem eram eles? As publicações descrevem os atores principais nos acontecimentos, esquecendo os coadjuvantes da história, os excluídos dos fatos ou não lembrados. Dessa forma, temos muito a pesquisar e relatar para o futuro. 

Recentemente foi encontrada em nossa querida Palmeira uma cápsula do tempo, no Largo Alfredo Westphalen, nesta muitos documentos de época, isso nos desafia a procurar mais informações e realizar pesquisas e registrar os fatos.

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